As Dez Orientações do CIT

Crema, Roberto - As Dez Orientações Maiores do Colégio Internacional dos Terapeutas – CIT (2013)

O Colégio Internacional dos Terapeutas - CIT é uma resposta, ousada e lúcida ao momento crucial de passagem que a nossa família humana atravessa - agonia de dores, alegrias e louvores, parto de uma nova consciência para um renovado existir consigo, com o outro, com a natureza e o Totalmente Outro.
Como afirma o seu mentor, Jean-Yves Leloup, o CIT é uma inspiração que transcende a instituição. Trata-se de uma Rede de Terapeutas, que se agregam para a tarefa premente de um cuidado integral, a partir do estilo alexandrino, uma via aberta e inclusiva de abordar o fato da crise, do sintoma e do sagrado, escutando-o e interpretando-o através de diversos e complementares níveis de realidade e de percepção, suportada no emergente paradigma transdisciplinar holístico.
A partir de uma visão de ecologia inclusiva e de uma redefinição de saúde como um estado de bem-estar psicossomático, social, ambiental e espiritual, postulada pela própria Organização Mundial de Saúde, reconhecemos três categorias de terapeutas: a clínica, a social e a ambiental.
As funções básicas, para as quais nos convocamos, são as da escuta, da hermenêutica, da ética da bênção e do sorriso, que recoloca o ser humano na sua condição de Sujeito, o que constitui uma necessária ressignificação do terapeuta como o facilitador de um cuidado integral. A tarefa de ser agente de saúde, portanto, é democratizada e estendida a todo ser humano, que se importa com o bem-estar, de si, de todos e de tudo: cuidar, cuidar-se.
O que essencialmente nos conecta ao CIT são Dez Orientações Maiores, formuladas por Leloup, a saber:

  1. O postulado antropológico, que é também uma ontologia e uma cosmologia, acolhendo as diversas dimensões existenciais do corpo, da alma e da consciência, atravessadas pela Essência da Vida. Trata-se de um olhar aberto para a inteireza do Anthropos, que alia e concilia o infra-humano e o supra-humano, no vasto coração do humano.

- Esclareça sua imagem acerca do ser humano, para escapar da dinâmica cega do inconsciente; assuma a responsabilidade por sua visão, atualizada e plena do humano, pois é ela que determinará a sua atitude frente a você mesmo, ao outro, à humanidade, ao Universo e ao Mistério!

  1. Uma ética da bênção, que é também uma ótica de bem olhar e uma delicadeza de bem dizer, que respeita o outro na sua condição de Sujeito, jamais o reduzindo a um rótulo ou a um sintoma, reconhecendo a sua dignidade de um ser dotado de um semblante original. Fazer aliança com a sua saúde intrínseca, a Luz do Ser, o núcleo essencial a partir do qual uma dinâmica de saúde e de plenitude é posta em marcha.

 

- Abra-se e faça aliança com a Luz que existe subjacente a tudo e a todos; o olhar e a fala são estruturantes: o que você diz modela, no outro e em si; o que você olha no outro também te olha!

  1. O silêncio, que emana da vinculação com o lar do agora, o exercício de uma prática meditativa no cotidiano, que possa nos centrar e nos abrir ao bem indizível da Presença. Praticar diariamente a holopráxis, uma via de despertar para o Ser, para a transcendência, que emane de uma tradição sapiencial autêntica, ocidental ou oriental.

 

- Habite o deserto fértil da Pausa, transcendendo os diálogos internos, a ilusão do passado e a ficção do futuro, que nos exilam do Instante que é o Real, pátria do Encontro, oásis do Ser!

  1. O estudo, analítico e sintético, ou seja, dos textos científicos contemporâneos e dos textos da sabedoria perene, para uma permanente atualização, através do cultivo dos hemisférios complementares, do saber e do ser.

 

- Exercite, no cotidiano, a arte de nutrir nossas duas inteligências, a diabólica – que divide – e a simbólica – que religa -, o princípio masculino e o feminino, para ser capaz do Tao da compreensão!

  1. Gratuidade, exercício de solidariedade e de doação desapegada, no dia-a-dia, para o bem do semelhante, da sociedade e do universo. Praticar o serviço, viço do Ser, que nos abre para o estatuto de Dom, do alimento que tem fome de se oferecer e de nutrir, a todos e tudo.

 

- Pratique a bênção da doação, do semear incondicional que não visa à colheita, da gratuidade que nos eleva à pátria da Fonte e da Abundância, pois apenas o que ofertamos constitui células de nosso corpo de leveza e de eternidade!

  1. Reciclagem, um compromisso de vivenciar, anualmente, um tempo generoso de recolhimento no deserto do novo, além do espaço familiar do local onde habitamos. Um distanciamento salutar e transcultural, para uma revisão, reflexiva e meditativa, da jornada existencial, visando um processo de renovação e de evolução.

 
- Ouse investir no potencial do inusitado, dando férias ao cotidiano, para reencontrar-se no desconhecido, o que favorecerá uma clareza de olhar e uma qualidade de escuta, para deixar morrer o obsoleto no renascer para o Novo!

  1. Reconhecimento da incompletude, do inacabamento, que conduza à humildade e responsabilidade de se fazer acompanhar por outra escuta terapêutica. Para evitar o risco da inflação egóica, do julgar-se pronto e autossuficiente, que estanca o processo contínuo de aprendizagem e de aperfeiçoamento.

 

- Exercite a disciplina do discípulo, o perene aprendiz da Vida, buscando alimentar-se no Maná do Outro, no passo nosso de cada dia, cuidar-se para cuidar!

  1. Anamnese essencial, um registro sistemático das experiências numinosas, na vigília e no sonho, que evidenciam a presença do Sagrado no viver cotidiano, do Essencial no existencial, do Infinito no finito, da Eternidade no tempo. Acolher, com atenção e reverência, os beijos do Mistério da Vida que nos toca, inesperadamente, no segredo do labirinto do existir.

 

- Assuma a autoria do Livro do Deslumbramento, anotando os momentos culminantes e estrelados, quando a taça da existência transborda com o néctar do Numinoso, encanto e espanto do Ser que nos convoca a Ser!

  1. O despertar da Presença, a tarefa de lembrar o que realmente somos do Absoluto que fundamenta o relativo em nós, do Instante Eterno que nos recria, através da atenção na respiração, da invocação e evocação dos mantras e nomes sagrados, do clamor pelo Que É, que nos liberta e nos impulsiona à trilha da realização.

 

- Ancore-se na Plena Atenção, respirando e se deixando respirar pelo Grande Sopro, para que haja Vida no seu existir!

  1. Fraternidade, o abrir-se para o outro, os outros, visíveis e invisíveis, através de um ritmo de encontros, fonte de sinergia e de transformação. Para o estudo partilhado, a celebração, o canto, a prece, o poema, a dança da parceria, a comunhão meditativa. Através da Solidão do Ser, solidarizar-se...

- Convoque-se à alquimia da sinergia, para a conexão com os reinos da parte e do Todo, já que ninguém ensina ninguém a cuidar e ninguém aprende a cuidar sozinho; aprendemos a Arte de Cuidar no Encontro!